terça-feira, 21 de junho de 2016

Sirena

Os cabelos percorrem o feitio de suas costas
E as mãos desorientam-se no negrume denso
Caem-lhes sobre o rosto quando descomposta
E o olhar surge me suscitando prazer imenso

Suas recônditas vistas quando meio expostas
Revelam os mistérios dum dinamismo tenso
Entre uma natureza vivaz e melancólica
És uma sirena fascinante e sem consenso

Mas sua sedução ardil se confessa no sorriso
Condensando discretamente toda sua malícia
Suscitando sofreguidão em abdicar do paraíso

Para poder imergir em seu mar de delícias
Perante sortilégios pouco importa prejuízos
Relevante é morrer pela paixão que propícias.


sábado, 19 de outubro de 2013

Finório e Belo Ato

Através de cortinas brancas o sol ilustra a casa
Divagando uma imagem turva e vaga
Da atração dos adormecidos corpos fátuos
Em um universo visceral e substrato
Onde há um imutável presente que trespassa
Qualquer história vivida, passada.

Eis a demonstração de um finório e belo ato:
Condescendentes, estão trancados
Para que não haja vias para futuras desgraças
Para que o fascínio satisfaça
E para que o efêmero e intenso ardor do tato
Permaneça eternamente arrebatado.


Jeniffer M.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Antes das promessas não feitas

Antes das promessas não feitas e não cumpridas
Da quebra das palavras ainda não ditas
Em um tênue presente de incerto futuro
Havia o comportamento vil e obscuro.

Após escutar belas palavras eruditas
E crer em juras de amor tão felicitas
O tempo tornou-se querençoso e puro
E puniram-me pelo decorrido, amarguro.

O castigo pelo passado antes do início
Investido durante a obra do desejo, do vício
Em taciturnidade foi íntima decepção.

Agora é padecimento durante a escuridão
E condolência pelo resto do débil estrupício
Que de sua angústia só apresenta vestígios.

Jeniffer M. 

sábado, 17 de novembro de 2012

Cândido Arlequim

Dentro do picadeiro vivia Cândido Arlequim
Sempre embriagado, de cabeça estouvada
Era a alegria da trupe com tanta palhaçada
Vivia sua puerícia como se fosse sem fim.

Dentro do picadeiro caiu Cândido Arlequim
Machucado, foi troça boa entre a criançada
Enfurecido, distribuiu abundantes bofetadas
Foi nota trivial em um decadente folhetim.

Fora do picadeiro ficou Cândido Arlequim
Levando pontapé dos afáveis camaradas
Receou de tudo ser uma atroz emboscada
Bramiu lôbrego, clemente: Coitado de mim!

Hoje não se chama Cândido, nem Arlequim
A amargura agora é sua única e fiel amada
Já não possui recordação das velhas risadas
E os guizos do coração já não fazem tlintlin.

Jeniffer M.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Lúgubre fraqueza

Oh, lúgubre fraqueza da paixão
Taciturno pranto da madrugada
Sagaz e delirante dor da discrição
Não me transfigurem em morada.

De tuas libidinosas armas torno-me são
Após os estorvos de tuas trapaças
Arraigando em mim a louca indecisão
Acerca do que sou despindo fachadas.

Permitam-me amargar por dores reais
Repousar plácido na obscuridade
E manifestar dilemas tradicionais.

Sendo desprezível com excentricidade
Decepcionando-me por causas morais
E amando com funesta veracidade.

Jeniffer M.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Viver é sofrer

Em tempos derradeiros, ouvi uma enunciação
Aceitá-la seria ao meu otimismo amotinação
Confesso-lhes, a receei, mas sem a conceber 
Pois não aguentaria crer que viver é sofrer. 

Mas eis o que me aguardava, era o esmorecer 
Perante os fatos vividos, morria em mim o prazer  
Dos sonhos de outrora desejados, restara assolação 
Um conformismo nascia perante a antiga asserção.

Então, colérico, evadi: A felicidade é uma ilusão! 
Feroz axioma vertido por mim em teorema vão 
Demonstrara pura veracidade sem se envaidecer
Pois reconhecia a desgraça que tinha a oferecer.

Agora esta evidência é apenas o que tenho a dizer
Perdurar nada mais será que um contínuo entristecer
Para todos aqueles que em utopia não se refugiarão
E todos que de sua fantasia extorquidos serão.

A dor e a angústia acompanham-nos sem consternação
A nossa tragédia é verdadeira conivente da decepção
Há lugar para confiança que nunca há de se condoer
Pela vítima do gregarismo que acabará por se esvaecer.

Mas, ainda assim, haverá outros que hão de descrer
E flamejantes, brandantes, hão de dizer:
Mas eu realmente sou feliz! (Frêmitos de emoção)
Mas vos direi que não. Sereis vítimas de tua alucinação.

Jeniffer M.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Um funesto

A vigente reminiscência 
Do que um dia foi constante 
Hoje não é mais que ausência 
Vertida em grande dor maçante. 

Na atroz falta de veemência  

Estafo da pulsação incessante 
E de minha total inapetência 
Que me restara? O bastante. 

Permanece-me o bramir da dúvida 

Sem algo que conclua o meu sofrer
Sou um funesto a me carcomer. 

Pego-me querendo apenas entender: 

A morte faz parte da existência elucida 
Ou a vida não faz parte da ruína adquirida?  

Jeniffer M.