sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Em algum caderno

Deixei morrer as flores de meu jardim
Morreram gritando por esperança
Mas fingi tampar os ouvidos e o coração
E sai pretendendo nunca mais voltar.
Encontrei um caderno na rua com linhas a acabar
Imundo, perdeu-se no tempo
Que já não o consola, suas histórias não podem mais o salvar
Lendo-o, não sei o que senti e não sei o que eu sinto agora.
Perdi-me enforcado em angustia, senti arder em dor o meu peito
Mas continuei sem saber por onde andava e segui o caminho que me sujeitei
Porém, fui fraco o suficiente para cair, e caí
Risos desconhecidos inflamaram meu ego corrompido.
Dentre a dor e o rancor, adormeceu-se o amor
Brotou ódio em conhecidas ilusões
E condenado a vida, condenei-me a realidade.
Não resta-me vontade para viver ou para morrer
Não há desejo em descobrir o que virá a me ocorrer
Apenas sigo sem decidir, guiado pelo acaso sem cessar
E assustado, reconheci o lugar onde fui parar.
Retornei para casa com meu caderno desconhecido
Reconheci-me então
Joguei-me em pranto sobre as cinzas do passado
E lendo as novas e últimas palavras no fim do caderno
Acabou-se, acabei.

Jeniffer M.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A mercê do meu próprio eu

Estou a mercê do meu próprio eu
Choro pelas ruas não escondendo minha solidão
Perguntam-me porque choro e confesso-lhes de antemão
Choro pois estou só em um mundo sem explicações.
Estas pessoas me causam repulsa, desistiram de pensar
Não querem mais saber o que são ou deixaram de ser
O que faz no mundo sem crer em você?
Mas é descrevendo-os que quase me reconheço
Desejo então tornar-me um inapto.
Eu que admiro as águas que correm em meus pés
Canto como pássaros em meu pequeno coração
Adormeço com a fria brisa do anoitecer que cheira a morte
Não possuo liberdade para ser o que eu quiser.
Tentei abandonar o que estava prestes a me tornar
Larguei meu povo sorrindo, e eles igualmente me sorriram
Perdi meu passado por não desejar perder-me no presente
E agora, não há nação que me aceite.
O que farei eu em instável situação? Não farei
Continuarei a sonhar mais do que viver
E acordado continuarei a me embriagar
Pois é embriagado que esqueço os motivos que me fizeram assim ficar
E começo a cantar, começo a sorrir, volto a ser uma criança iludida.
Mas na realidade, sou crescido e julgado como louco
E não tenho certeza sobre minha sanidade
Dolorido é pensar que loucos são os outros que vivem sem pensar
Então declaro, cansei de tentar me encontrar neste mundo que não foi feito para mim
Quando é que meus olhos deixarão de se abrir?

Jeniffer M.